sábado, 12 de janeiro de 2013

PROBIÓTICOS NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS ALÉRGICAS?

por Juliana Santin

A prevalência de doenças alérgicas tem aumentado nos últimos 35-40 anos, particularmente nas sociedades ocidentais. Apesar de as pesquisas sobre como os probióticos podem modular a reação alérgica serem preliminares, eles podem exercer um efeito benéfico melhorando a função de barreira da mucosa e a estimulação microbiana do sistema imune (1). As bactérias probióticas são importantes na regulação da inflamação associada com reações de hipersensibilidade em pacientes humanos com eczema atópico e alergias alimentares (2).

A administração perinatal de Lactobacillus rhamnosus GG reduziu a ocorrência subsequente de eczema em bebês com risco pela metade (3). Em bebês recém-nascidos, a bactéria inicial a colonizar o trato gastrointestinal estéril pode estabelecer um nicho permanente e ter um impacto permanente na regulação imunológica e desenvolvimento subsequente de desordens atópicas. Sugeriu-se que os probióticos podem melhorar os mecanismos de barreira endógenos do intestino e aliviar a inflamação intestinal, fornecendo uma ferramenta útil para o tratamento de alergias alimentares (1).

Os probióticos podem também ser úteis no alívio de alguns sintomas de alergias alimentares, como aquelas associadas com a proteína do leite. Possivelmente por degradar essas proteínas para peptídeos menores e aminoácidos, a adição à dieta de bebês em uma fórmula hidrolisada de soro do leite reduziu os sintomas de dermatite atópica (2). Os probióticos também mostraram que regulam as citocinas antiinflamatórias, como interleucina-10, em crianças alérgicas (4). Isso é visto como um efeito imuno-estimulatório em pessoas saudáveis e como um efeito regulador, tendendo à redução, das respostas imuno-inflamatórias em pacientes com hipersensibilidade.

Similarmente, em modelos animais(ratos) foi demonstrado que os probióticos reforçam a degradação de antígenos na mucosa, aumentando a quebra de macromoléculas (5).

É necessário pesquisas com cães para obter resultados sobre essa relação. Mas quem sabe o uso de probióticos , além de todos os beneficios que já estão comprovados, não venham a ser mais uma ferramenta na prevenção /exacerbação da Dermatite Atópica?

Dra. Andrea Fermann Nagelstein


por
Adenilde Bringel
Yasumi Ozawa Kimura


Considerada pela ciência como uma ‘resposta imune alterada desencadeada por uma substância estranha’, a alergia se constitui em um problema de saúde em todo o mundo, que leva médicos e pesquisadores a procurar respostas para prevenir e controlar as manifestações. Provocadas por alérgenos que podem ser poeira, pelo e pena de animais, alimentos, drogas, corantes artificiais, cosméticos, picada de insetos, fungos e ácaros, entre outros, as reações alérgicas provocam uma série de transtornos para a vida de adultos e crianças, que variam de inchaço e coceira até congestionamento nasal, respiração ofegante, dores de cabeça, cólicas abdominais, vômitos e diarreia. A rinite e a asma brônquica estão entre as alergias que ganham mais importância na primavera, quando o aumento do nível de pólen no ar eleva a incidência do problema. Vários pesquisadores atribuem as alergias a uma deficiência do sistema imune e tentam demonstrar, por meio de estudos, que alguns probióticos podem colaborar para estimular as células imunológicas e, consequentemente, diminuir as ocorrências de alergia.


Uma pesquisa sobre o tema foi apresentada em novembro de 2010 durante o 19º Simpósio Internacional da Flora Intestinal, realizado anualmente pela Yakult Honsha, em Tóquio, no Japão. O pesquisador Erkki Savilahti, do Hospital para Crianças e Adolescentes da Universidade de Helsinki, na Finlândia, informa que diversos estudos sobre a patogênese de alergias, tanto em humanos como em animais de laboratório, continuam a mostrar a importância da bactéria comensal no trato gastrointestinal no estímulo e direcionamento do sistema imune. “O interesse na modulação da flora comensal com pré e probióticos para prevenir e tratar as alergias alimentares tem se multiplicado nos últimos anos”, enfatiza. Um estudo recente envolvendo 230 crianças com dermatite atópica e suspeita de alergia ao leite de vaca demonstrou resultados favoráveis com relação aos probióticos Lactobacillus GG (LGG).


Nas crianças Ig-E sensibilizadas, o grupo LGG mostrou uma grande redução na escala SCORAD comparada ao grupo placebo (p = 0,036) da linha de base, quatro semanas após o tratamento. Os cientistas mediram a secreção de diversas interleucinas produzidas pelo estímulo de células mononucleares de sangue periférico (PBMC) durante o estudo, e a secreção reduzida de IFN-? em crianças com CMA associado ao IgE foi corrigido pelo tratamento com LGG. “Observamos um aumento significativo nos níveis séricos de CRP em crianças tratadas com Lactobacillus GG; ao mesmo tempo, as concentrações de IL-6 aumentaram. Pensamos que os probióticos possam induzir sistematicamente a diminuição do grau de inflamação, o que pode explicar os efeitos clínicos e os padrões de secreção de citocinas pelo PBMC”, indica.


Outro estudo com objetivo de estudar a habilidade dos probióticos na prevenção de alergias em crianças envolveu 1.223 mulheres grávidas de fetos com riscos aumentados de desenvolver alergias. Essas voluntárias participaram de um teste duplo-cego placebo controlado usando uma mistura de quatro espécies de probióticos ou um placebo a partir da 36° semana de gestação. Os bebês receberam os mesmos probióticos, adicionados de prebióticos galactooligossacarídeos por seis meses. Após dois anos de acompanhamento, um total de 925 crianças havia participado. “A incidência cumulativa de qualquer doença alérgica, como alergia alimentar, eczema, asma e rinite, não diferiu significativamente entre os grupos simbiótico (32%) e placebo (35%). Entretanto, os simbióticos reduziram significativamente a eczema (p = 0,035). O efeito preventivo dos simbióticos foi mais pronunciado contra doenças associadas ao IgE”, assegura o cientista.


Em cinco anos de acompanhamento, das 1.018 crianças tratadas, 891 (88%) compareceram às consultas marcadas. A frequência de sintomas alérgicos nos grupos probiótico e placebo, assim como as doenças associadas ao IgE e à sensibilização foram semelhantes: 52,6% versus 54,9%, 29,5% versus 26,6% e 41,3% em ambos. As frequências de eczemas não diferiram significativamente entre os grupos (39,3% versus 43,3%), entretanto, ocorreram menos doenças alérgicas associadas ao IgE em crianças submetidas à cesariana com probióticos (24,3% versus 40,5%: OR 0,47, 95% CI 0,23 – 0,96 com p = 0,035). Em crianças submetidas à cesariana observou-se também um aumento defasado na recuperação de bifidobactérias no grupo tratado com placebo, que foi corrigido por meio da suplementação com pré e probióticos. Estudos em amostras de fezes e de sangue em bebês de seis meses mostraram que os probióticos podem aumentar tanto a inflamação como a defesa imune dos intestinos. “O tratamento estimulou tanto o amadurecimento do sistema imunológico, fortalecendo a resistência contra infecções respiratórias, como aumentou as respostas dos anticorpos da vacina de crianças com probióticos”, resume.



Probióticos em recém-nascidos



O pesquisador Michael Cabana, da Divisão de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, afirma que, embora os potenciais efeitos benéficos de certas espécies de bactérias venham sendo observados há mais de um século, nos últimos anos há um aumento crescente na aplicação e no uso de probióticos em cuidados pediátricos de recém-nascidos. Durante o Simpósio Internacional da Flora Intestinal, o cientista fez apresentação com objetivo de dar uma visão geral sobre os recentes trabalhos de utilização da suplementação de probióticos na prevenção primária de doenças atópicas nesta faixa etária. “Existem hipótese indicando que fatores ambientais durante a primeira infância podem afetar o desenvolvimento do sistema imune e, como consequência, aumentar o risco de doenças alérgicas”, alerta.


No sistema imune maduro, as células T helper (Th) fazem parte de um sistema que ajuda a reconhecer os antígenos estranhos e secretar citocinas que irão auxiliar na ativação de outros componentes do sistema imune. Os dois subtipos de células Th – Th1 e Th2 – são definidos para a maior parte das citocinas que produzem. A hipótese de higiene sugere que os fatores ambientais iniciais podem afetar o desenvolvimento do sistema imune e conduzir ao desencadeamento das condições atópicas nas crianças. Especificamente, a teoria sugere que a falta de exposição da endotoxina conduz a uma balanço desfavorável entre as células T helper do tipo 1 e do tipo 2.


“Como resultado, a suplementação prematura de probióticos pode ser uma exposição promissora e prática que pode levar ao Th fenotípico que não esteja associado com as condições atópicas, como asmas e alergias”, afirma. O pesquisador lembra que há argumentos consideráveis a favor e contra esta hipótese e informa que um estudo randomizado, controlado e duplo-cego com 159 recém-nascidos finlandeses sugere que a exposição prematura aos Lactobacillus GG como suplementação com probióticos conduziu a uma diminuição dos riscos de doenças atópicas.


Entretanto, um estudo similar foi conduzido na Alemanha com 105 famílias com pelo menos um membro com doença atópica, mostrando que não havia diferença no desenvolvimento de dermatite atópica e no grau de sua severidade. “O estudo TIPS – Trial of Infant Probiotic Supplementation, com suplementação de probióticos em crianças, está em andamento nos Estados Unidos com cerca de 150 participantes”, ressalta, ao comentar que a pesquisa quer testar a eficácia de uma suplementação diária de probióticos nos primeiros seis meses de vida para prevenir o desenvolvimento de marcadores prematuros de asma.


Segundo Michael Cabana, existem diversas diferenças comparando este projeto com estudos realizados anteriormente, pois o TIPS está sendo realizado em diversas instituições de São Francisco, cidade com população diversificada e um terço de estrangeiros de diversas nacionalidades. A área geográfica oferece uma grande concentração demográfica de onde foi possível selecionar voluntários de origem hispânica, asiática, caucasiana e afro-americanos. “As causas da asma são multifatoriais e a análise levará em conta o número de familiares e as exposições ambientais”, reforça, ao enfatizar que existe uma análise adicional dos efeitos longitudinais da suplementação de probióticos no microbioma de crianças.



Padronização e riscos



O pesquisador relata que padrões têm sido sugeridos para a utilização de probióticos em crianças. Isso porque, probióticos são microrganismos viáveis e, teoricamente, têm potencial para causar infecções no hospedeiro. Na literatura, há relatos de bacteremia e fungemia ocorridas em todas as faixas etárias e o fator de risco proposto para sepses por probióticos tem sido identificado, incluindo comprometimento imune ou prematuridade. Fatores de riscos menores incluem desde a utilização de um cateter venoso, uma barreira intestinal vulnerável, a administração via jejunostomia, uso de antibióticos de amplo espectro e probióticos com alta adesão na mucosa intestinal.



Por isso, a presença de um fator de risco maior ou de múltiplos fatores de risco menores sugerem cuidados na utilização de probióticos. Entretanto, existem poucos trabalhos realizados com o controle randomizado para verificar a eficiência da suplementação por probióticos. “Esta é uma área aberta para investigações contínuas buscando efeitos e resultados da suplementação prematura com probióticos em crianças. Se a hipótese de higiene estiver certa, será possível traçar estratégias em relação ao equilíbrio de Th1/Th2 que bloqueie as crises de asma ou retarde a evolução da doença”, acredita.



Estudo envolve rinite alérgica



O pesquisador sênior do Instituto Central de Pesquisas Microbiológicas da Yakult Honsha, Masanobu Nanno, é um estudioso das interações que os microrganismos probióticos desempenham no sistema imune e desenvolveu um estudo que avaliou o efeito de Lactobacillus casei Shirota com a rinite alérgica induzida pelo pólen de cedro, situação recorrente no Japão, onde de 10% a 15% da população sofre com o problema. Publicado no International Archives of Allergy and Immunology em 2007, o estudo controlado com placebo, randomizado e duplo-cego envolveu 109 voluntários (54 com placebo e 55 no grupo com os lactobacilos), sem diferenças em relação à idade, níveis totais de IgE e de IgE antiárvore de cedro, assim como gravidade dos sintomas alérgicos.



Os voluntários foram selecionados segundo critérios de exclusão como uso de anti-histamínicos ou de medicamentos antialérgicos no período de realização da pesquisa, qualquer histórico recente de rinite aguda, sinusite, pólipos nasais, rinite hipertrófica, deformidade no septo nasal, asma, distúrbios no fígado, rins, coração, órgãos respiratórios, glândulas endócrinas ou de metabolismo, tratamento com desensibilizantes, consumo frequente de produtos lácteos contendo lactobacilos e alergia ao leite de vaca. “Resultados de pesquisas realizadas com a suplementação de leites fermentados contendo probióticos dão suporte à teoria de que o equilíbrio da microbiota intestinal pode interferir no desenvolvimento das rinites alérgicas”, afirma Masanobu Nanno.



Em animais de laboratório, o Lactobacillus casei Shirota interrompe a produção da IgE dos esplenócitos pelo aumento da secreção de Interleucina-12 pelos macrófagos ‘in vitro’ e a sua administração impede o aumento da concentração de IgE e a indução dos sintomas anafiláticos após sensibilização com ovoalbumina. Por isso, o pesquisador resolveu investigar se esses microrganismos probióticos são capazes de aliviar os sintomas da alergia em humanos. “Conseguimos demonstrar que a ingestão do leite fermentado não impede o surgimento dos sintomas clínicos ou dos parâmetros imunológicos anormais em pacientes alérgicos ao pólen da árvore do cedro, mas poderá retardar o aparecimento dos efeitos indesejáveis nos pacientes com sintomas nasais moderados a severos”, assegura.


Hereditariedade é importante


A médica Lucia Maria Barbalho Guirau, chefe do Serviço de Alergia e Imunologia do Hospital Infantil Darcy Vargas, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, lembra que as alergias têm um importante fator hereditário. Se o pai ou a mãe forem alérgicos, a probabilidade de os filhos desenvolverem o problema é de 40% a 50%. Se ambos os pais tiverem quadro de alergia, a probabilidade genética sobe para 65% a 70%. Embora a criança nasça com a herança genética, se o ambiente não tiver estímulos alérgicos é possível postergar o início de sintomas. Além disso, a imunização com vacinas, a partir de três anos de idade, pode ajudar a diminuir as ocorrências ao longo da vida. “O tratamento dura entre três e cinco anos”, adverte.


A maioria dos quadros alérgicos é provocada por ácaro da poeira domiciliar presente em colchões, bichos de pelúcia, cortinas e cobertas, embora outros gatilhos, como mofo, poluição e o próprio clima possam provocar as alergias. No Brasil, os processos alérgicos mais comuns são rinite, com 90% de incidência, e asma com 50%, além de dermatites de pele e conjuntivites, que atingem aproximadamente 10% da população. No País, os quadros alérgicos por polinização se manifestam mais em cidades do sul do País, provocados por plantas como ipê, cana-de-açúcar, pastagens (feno) e até grama.


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1) MacFarlane, G.T. and Cummings, J.H. (2002) Probiotics, infection and immunity. Curr Opin Infect Dis 15, 501-506.


2) Majamaa, H. and Isolauri, E. (1997) Probiotics: a novel approach in the management of food allergy. J Allergy Clin Immunol 99, 179-185.

3) Isolauri, E., Arvola, T., Sutas, Y., Moilanen, E. and Salminen, S. (2000) Probiotics in the management of atopic eczema. Clin Exp Allergy 30, 1604-1610.

4) Pessi, T., Sutas, Y., Hurme, M. and Isolauri, E. (2000) Interleukin-10 generation in atopic children following oral Lactobacillus rhamnosus GG. Clin Exp Allergy 30, 1804-1808.

5) Pessi, T., Sutas, Y., Marttinen, A. and Isolauri, E. (1998) Probiotics reinforce mucosal degradation of antigens in rats: implications for therapeutic use of probiotics. J Nutr 128, 2313-2318.













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